29 de setembro de 2005

Filósofos não combinam com champanhe

De um jeito atrapalhado deixei cair de minhas mãos o livro de Dylan Thomas assim que cheguei. Ele juntou e quando foi me devolver disse, "estou sem voz, sem voz normal". Falava como se sussurrasse. Após alguns minutos outro sussurro: 'podes beber champanhe sem problema algum.’ Olhei para ele me sentindo déplacée, pois há muito tempo não tomava uma taça sequer. Mas, por que razão não? Veio em meus pensamentos a explicação de que o champanhe não combina com qualquer companhia, combina com vida. Filósofos não possuem muitos motivos para se misturarem ao líquido. Quem_ com o olhar opaco e sem brilho_ poderia ser visto com uma taça entre os dedos e parecer vivo? Realmente vivo? Amando a existência? Não conseguia imaginar um filósofo em tal cena, as que lhe vinham em mente eram imagens de cachimbos e cafeterias, fumaça e muita cafeína para embalarem frases imperativas e pedantes e, mais tarde, em suas noites melancólicas e solitárias, entoarem hinos a deuses que são desprezados somente quando mencionados à meia-luz de outras faces com expressões furtivas em seus discursos céticos e falsos, mas afirmados como toda a verdade possível. Uma espécie de Fichte às avessas: o mundo como um reflexo da pupila sobre este mesmo mundo_ e que o faz ser nada mais do que aquilo que pensamos, sentimos, percebemos e desejamos que seja. Presumo que o idealismo, quando surgiu, incentivou a esquizofrenia por todos os lados do planeta. Nem todos têm uma estrutura de pensamento que possa lhes permitir um 'ato de fé' nas suas 'próprias pupilas' sobre o mundo.
Anna_ o Vinho dos Não-Filósofos & os Idealistas Esquizóides