28 de agosto de 2005

A Praticidade & O Nada

À noite, não procurava a porta. Já cumprira com a função prática, já fizera o suficiente. Fora igual por muito tempo com a prática a mandar em tudo. Abria a porta. Fechava a porta. E novamente entreaberta retornava a fechar-se sobre si mesma. Em todos esses anos viu os homens passarem por suas bordas ou através dela mesma. Em sua maioria homens com tendência a praticidade em suas vidas. A vida era muito mais que um abrir e fechar de 'eternos' atos. O mundo conhecera a praticidade. E por culpa de tanta praticidade o mundo, desde então, vivera nesse ritmo incessante como o mito de Sísifo em eterna condenação. E isso nada significa. E, contraditoriamente a tudo isso, quebravam paredes e muros para construir mais e mais. A praticidade se elevava e o mundo se enfeitiçava com ela. Os homens continuam morrendo aos poucos sem saber que ‘ a luz ao perguntar ao nada o que era o nada’ não conhecia nenhuma entrada. Não procurava nenhuma saída.

Anna Karenina

1997