26 de agosto de 2005

Deve haver algo

Deve haver algo entre um olhar e o tempo. Algo entre dois olhares trocados sempre significam muito. Neste instante, sentir um afastar-se do tempo sem representar qualquer esforço, nenhum, quase nada. Encontrar um olhar que contém em si próprio o universo inteiro. Invasão deste impulso irracional definido como vontade. Se fossemos viver conforme nossas vontades o que se tornaria o mundo? Também a ausência de vontade existe e se fossemos viver conforme a ausência de vontade o que o mundo se tornaria? Penso sobre minhas sensações e percepções desejando mais significação de vida a elas que para mim. Significar muito mais do que aquilo que viveu através delas. Como seria o mundo se todos vivessem pensando sobre o que acabaram de sentir ou perceber? Como seria o mundo se nunca ninguém tivesse feito isto? Se ninguém mais fizesse? O que seria meu mundo se nunca tivesse encontrado com este olhar que julgo diferente de todos os outros?
Deve haver algo entre o tempo e o encontrar de um olhar, deve haver algo na distância entre o que um homem e uma mulher já viram, o tempo de ter visto muito mais e o tempo de não ter visto ainda tanto assim.
Exercício literário
1996