17 de agosto de 2005

O tchau certinho

Conheceu-o com uma expressão deslumbrada, angelical. Comoveu-se. Apaixonou-se. Desesperou-se. O destino fez um contato inicial entre os dois. Aproveitou-se disso. Então, contou, narrou, falou e falou. Talvez quisesse impressioná-lo. Não parou de falar enquanto esteve com ele. Tudo o que lembrava era do seu olhar, enigmático e azul. Deus, que coisa mais linda. Não conseguiu ter uma noção do que ele pensara. Sentiu-se ridícula. Normal. As pessoas apaixonadas sempre fazem muitas coisas bobas e sem sentido e o que era pior, sentem-se felizes por fazê-las. E talvez, por isso, as repetissem, traziam momentos de felicidade. Continuava sendo ridícula. Conversaram sobre muitas coisas. Na saída um tchau certinho e promessas de se trocaram literatura. Quando o viu novamente sentou-se do outro lado do bar, isto é, do seu lado. Café. Corredores. Escadas. Alguns cigarros, assuntos exagerados. Uma boa troca de idéias e uma troca de sombrinhas na qual saiu perdendo. Fez que não viu. Levara algo seu. E ficara com algo dele. Não daria para usar do jeito que estava, mas sentiu-se feliz. Acabara de fazer algo bem tolo. Chovia muito e com a sombrinha estragada ficara ensopada. E feliz.

Novamente os cafés. Corredores. Bares. Em meio a chuva e frio esperou o tchau certinho. Que dependência esquisita. Esperar pela despedida.
Anna Karenina
Exercício literário
1996