6 de setembro de 2005

O correr

Acordou. Estava quente, um lindo sol. Seria, sem dúvida, um dia ensolarado para o mundo. Mais um dia. Menos um. Não queria fazer nada. Tudo parecia sem sentido. Quando acordava assim, esperava que o dia amanhecesse nublado e chuvoso para combinar com seu tempo interior. O dia resolveu contrariá-lo, estava luminoso. Tempo passando, a vida se escoando e as pessoas lá fora correndo de um lado para outro. Resolvendo problemas criados por elas mesmas para terem o que fazer. Onde ir. Por que correr. Não entraria no sistema. Não correria. E não faria muitas coisas. De preferência pouquíssimas. Escovou os dentes embaixo do chuveiro. Tomou café descansadamente no chão bem no meio da sala. Desceu quinze andares. Tudo muito lentamente. Não tinha porquê correr. Não tinha de quem correr. Foi até a praça central. Sentou-se num banco. Logo depois levantou-se e foi até o banco em frente e ficou olhando para si mesmo de longe, difícil. Pensou que às vezes não suportava os seres humanos. Senhores de si mesmos num mundo em que a vida não era senhora de si. Persecutório. Silêncio. Mas pensas. E no que pensas?
Rien de plus.
Anna K.
Exercício literário 1997