23 de agosto de 2005

Primeira versão dos dados de várias faces

Nietzsche, se fosse jogar algo jogaria dados e não xadrez: os dados são o destino, a probabilidade finita que se converte em infinita através do acaso, de um destino que não está escrito, que não pode estar, lances sem qualquer regra ou estratégia como no xadrez, sim, ele seria um jogador de dados. Os dados não estão escritos para cairem nessa ou naquela combinação, eles são simplesmente lançados como a probabilidade de você ir até o cinema hoje ou nào e isso mudar todo o curso da sua existência. O lance é o maior destino, embora alguns desprezem por pensarem somente em suas combinaçòes finitas e possíveis.
Estou me sentindo leve e sem destino
Estou me sentindo pesada e com um atalho à minha frente
Estou sentindo meus pensamentos e os volto para Sócrates
Não se importara em lançar dados ou procurá-los perdidos entre as nuvens
Alguém os procurara por lá?
Estou e não estou aqui
Jogo e não jogo dados
Por que jogaria?
Eis que para cima não mais volto o meu olhar
Continuo o caminho de Zaratustra
Eis que o continuo
Soube dos dados em seu bolso, quando subiu à montanha e lá ficou por trinta anos
Soube do mar, que transporta, onde foram atirados por cima da ponte
Soube das águas, que vão além desse mesmo mar, que eles lá nunca ficariam imóveis
Soube das profundezas e superfícies, então
Reconheces e bebes da água que a lugar nenhum pertence ou vai parar
Alguém ainda chora o repouso do nada
Soltos entre nuvens? Não, muito menos em ‘astros cintilantes’ e em seu vagar
Eis que do mar e seus abismos não sairão nunca mais
A se movimentarem sem regras e sem cessar
Sem destinos escritos ou portões com vendavais
A transformar torres e bispos em reféns como pardais
Reféns de ilusões num só tabuleiro dividido em dois ou em muitos mais em seu pesar
Eis que nada importa, pois não saberão que a chuva não cai em seus sonhos celestiais
Eis Zara com os dados
Eis Alguém preso no tabuleiro
Eis alguém, ainda entoa o canto dos medievais, proclama eternamente: 'com os dados viver jamais'
Zara anuncia Sua morte
Alguém pegou o atalho errado e eis que equivocado permanecerá e se engana quem pensa que já vais
Zara não usa atalhos
Apenas em sonhos é que se esvai
Apenas pontes de onde diz: 'arremessais constantemente teus dados de várias faces e no sucumbir de águas turbulentas levantarás para assim viver: o escrito jamais
Eis o abismo em águas que sucumbem e se elevam mais tarde em sonhos de versos em mar
Alguém usou atalhos, usou secretamente para por cima das águas passar
Não foi Zara... não foi Zara com seus dados de várias faces...
E eis que não saberemos jamais
Quais são as faces de nossos lances
Quais são os lances que nos voltam suas faces
Quais as faces do destino não escrito
que ora sucumbe em vendavais
que ora se faz lance de torres brancas e promete o canto eterno dos ancestrais
Sou apenas mais um dado a ser jogado pelo eterno retorno? Talvez deus jogue dados para passar o tempo enquanto fica se perguntando se há um sentido para o universo, de onde ele veio, para onde vai... eu não quero ser um dado nas mãos de deus, eu quero fazer do mundo um lance de dados. Eu quero ser um dado no fundo do mar a se agitar de forma incontida, a se curvar diante das várias faces de um destino não escrito, além de meu último passo sentido, a cair em abismos cada vez mais profundos para depois da travessia passar por baixo das nuvens, com passos lentos e firmes e ainda que chova e eu precise caminhar sob esses pingos de chuva, eu vou murmurar para mim mesma: sou um dado em minha própria mão e nada mais.