30 de agosto de 2005

Náusea física da humanidade


Náusea física da humanidade. Obrigada a vomitar a banalidade estocada no seu estômago. Foi para a cozinha fazer o café. Sentaram-se à mesa. Ele começou a descrever o que fizera no dia anterior, ele ainda era o mesmo. Novamente as náuseas, já tão familiares, náuseas nos pés, náuseas nas mãos — e por um momento o bule tremulou entre meus dedos sacudindo o líquido e as náuseas seguiram caminhando pelos meus olhos, pela minha boca. Fui toda vômito naquele instante e meu coração continuou a bater compassado com as três sílabas, a acalmar-se por alguns segundos, a não ouvir respostas e, por isso, voltando a provocar-me batendo no ritmo silábico. A pele com sinais de flacidez e gordura, senti meus dedos apalpando, por sobre a fina pele dos olhos, a náusea que ali se escondia como quem apunhala pelas costas porque é covarde. A náusea tinha algo de covardia diante do mundo, ou não? Já não importava, pois já não batia mais no meu estômago, nem no meu coração. Ele é melhor quando descreve o que vê do que quando descreve o que sente, é preciso esquecer de si para descrever. Eu sou melhor quando vomito e a náusea sossega alguns dias. E algumas noites. Depois vem com toda força como quem chega de férias. Nesta noite ele ressona no quarto, expressão feliz.
Eu vomito a última náusea.
Fecho os olhos.
Anna K.
Exercício literário
1997