20 de agosto de 2005

Respirar decorado

Ele nada decorado. Como? O Romeu come decorado, veste decorado, joga xadrez decorado, faz sexo decorado, fala decorado, enfim ele vive decorado. Olha, disse apontando para ele que nadava já bem longe da rebentação, vês como ele tem segurança? Como nada longe, perto do perigo? Sim, o mar é sempre perigoso, respondi. Pois é, continua ela, mas ele só faz isso porque decorou como se faz. Nunca em toda sua vida fez algo em frente a outras pessoas que não estivesse antes previamente bem ensaiado e com certeza de que as possibilidades de darem errado seriam quase invisíveis. Sim, não há regras para o amor entre duas pessoas, mas há regras para falar, escrever e depois nadar decorado. Eles se acostumam a viverem com regras e depois não sabem o que fazer quando não encontram nenhuma nos livros medievais e gregos e platônicos. Nesse momento Romeu sai do mar e vem sorrindo em nossa direção. Não vão entrar, pergunta ele para nós duas. Eu não sei nadar, Romeu, responde Itsa, e o mar me assusta muito com tanto barulho e imprevisibilidade de suas ondas, sempre acho que uma delas vai me soterrar por completo em suas águas fortes e turbulentas e que vou morrer afogada. Deverias ler um pouco de filosofia, a verdade nos ensina a viver com mais segurança e prazer. Viste como eu nado bem? Porque aprendi algumas regras de como direcionar a mente para chegar onde quero. A ficção só te acrescentará mentiras e ilusões que te farão sofrer, deixa disso enquanto é tempo. Concordo com ele, e digo que vou largar meus livros de filósofos falsos e ler a verdadeira filosofia, a vida transcrita com verdades e regras para viver bem, saber viver. Itsa, grita Carlos Augusto de longe, vem cá amor. Vem ver o peixe que eu peguei e que vou devolver ao mar por ser pequeno demais, deixá-lo viver até sua velhice se ninguém mais conseguir pegá-lo. Corri para ver, sim o peixe era pequeno e Carlos Augusto sem regras de bom pescador ou de filósofo o devolvia a sorte incerta da vida, as circuntâncias de ser ou não pego, de morrer ou não morrer. E, no entanto, Carlos Augusto não era filósofo.
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